Este texto escrito em 1996,
e elaborado durante os trabalhos do grupo de estudos de Educação do Futuro- Novas Metodologias e Tecnologia na Educação
foram surpreendentes. Ainda me lembro de estar junto a acadêmicos tarimbados e
doutores em suas matérias, e timidamente tentar expor uma visão que não era à
época muito bem definida em termos educacionais – a holística. Mesmo com varias
experiências pelo mundo, e algumas com sucesso, ainda havia um olhar cético em
torno da metodologia e dos resultados. Aprendi muito neste período, pois como
convidada pelo coordenador do grupo, Prof. Manoel Moran, foi mais que um
mergulho em uma linguagem acadêmica estabelecida, foi aprender a praticar o
ouvir e calar, trocar e assimilar visões e conteúdos. Uma experiência que mesmo
passados mais de 10 anos faz-se presente, pois a figura central continua sendo o
educador/educando. Vou transcrever na integra para não mudar ou rearranjar o
conteúdo evitando perder o espirito que permeou todo o discurso. Os comentários
ou observações estarão em itálico, afinal passaram-se mais de uma década, nem eu
me lembro de todo o conteúdo, e vou descobrindo à medida que transcrevo. Estou feliz por esta iniciativa, por
compartilhar um material guardado por tanto tempo e que pode agradar ou não,
ser útil ou não, criar espaço para uma discussão ou não. De qualquer maneira o
propósito está cumprido.
Introdução
Este trabalho passou por
três fases distintas, sendo a primeira baseada em pesquisa realizada em escolas
públicas e particulares de São Paulo, cujo resultado direcionou nossa visão
para um só ponto - o professor enquanto
pessoa. Nele sentimos uma enorme frustação e um enorme vazio. A partir
desta realidade optamos por uma linha de trabalho voltada para a busca do
autoconhecimento, e no desenvolvimento da autoestima dos educadores. A segunda
fase, ainda baseada na pesquisa anterior, nos fez avaliar nossa visão enquanto
“buscadores”, e levaria uma mensagem de amor a todos aqueles que realmente se
achem na busca de um projeto por uma vida melhor. Decidimos então relatar nossas
experiências, ideias, dúvidas, alegrias e recomeços vividos após anos na área
educacional. A terceira fase constituiu na análise da primeira resenha deste
capitulo, e novamente passamos pela perplexidade em constatar a visão
mecanicista e pragmática do grupo de estudos ante a simplicidade e a exposição
aberta do conteúdo abordado: Amor. A partir das observações, acrescentamos e
fundamentamos alguns pontos para que o conteúdo atendesse exigências
acadêmicas. No entanto, este trabalho não procura ser pretencioso, mas um
iniciar amigo, procurando dar uma visão mais consciente e lúcida da importância
do papel humano no processo educacional; por isso queremos trocar com você
estas informações e receber com carinho suas expectativas.
A
ideia
No processo para elaboração
de ideias, esbarramos muitas vezes na enorme vontade de traduzir em palavras
toda uma ansiedade em querer que as pessoas comunguem conosco nos diversos pontos
de vista. É o ego brilhando. No entanto, sabemos que é impossível chegar neste
nível de aceitação, principalmente quando os assuntos discutidos envolvem
paradigmas arraigados no ser humano. Mas, uma palavra acreditamos ser comum a
todos – esperança. Nela reside mesmo
no mais duro coração, perspectiva de transformação, de transmutação de um ser (enquanto
humano), uma época (enquanto principio reorganizador), um país. Nesta esperança
assentamos ideias de mudanças profundas em nossas consciências, pois na
tentativa de mudar o outro sem nos dar o direito de uma nova escolha, o
processo torna-se superficial.
O homem sabe que está em
tempos de grande transformação social, politica, econômica, física, mental e
espiritual. Descobriu-se a individualidade preservada no grupo, descobriu que
esta individualidade é complementar a este grupo, e que o grande salto
quantitativo e qualitativo destes novos tempos está neste reconhecimento. O homem
,hoje, conhecedor do seu mundo em crise, e reconhecendo a oportunidade de
mudança, procura esta nova formula em relacionar-se consigo mesmo e com os
outros. Este homem fantástico criou tecnologias que o levou a saltos imensos
nos últimos 30 anos; fez descobertas acerca de si mesmo, e viu que é sujeito
destas transformações. No entanto, sabe também que esqueceu algo para trás. Discute-se
a qualidade total, a autonomia com responsabilidade, a interação no grupo e as
consequentes mudanças; aonde entra então o aspecto tecnologia/educação nesse
processo de transformação? Um referencial de excelência nesta descoberta
fantástica é a própria busca do fato.
O que precisamos mudar? Em
que ponto? Quais as interações que resultarão destas descobertas e mudanças?
O
sistema
Temos hoje um sistema
educacional arcaico em função do avanço na área da informação e do
conhecimento. Chegamos a planetas distantes, obtemos informação de outros
sistemas, pesquisa-se a pluralidade dos mundos, e, no entanto, ainda subjugamos
alunos a carteiras, lousas e arquivos mortos. Desmotiva-se o ser pensante
criativo, em função de teorias já pré-concebidas e que não acompanham a
velocidade das transformações. Esperança.
O próprio núcleo educador –
escola, professores, comunidade – apercebeu-se desta situação e busca mudanças
que se viabilizem tão rapidamente quanto o próprio avanço técnico-cientifico.
Absorvemos a globalização, somos cidadãos do mundo e não mais de um país, de um
estado, ou de uma comunidade. Dividimos a responsabilidade sobre o contexto
humano de vida e de morte, e nos demos despertos para a necessidade de mudanças
significativas que traga nesta geração consciência, e nova visão do saber. O
cérebro, e sua parceira - a mente- são complexos, e muito já se reformulou em
função das recentes descobertas. Como esperar que crianças e jovens continuassem
a engolir informação sem conhecimento e sem visão de futuro, perdendo o contato
com a natureza que o cerca, e não entendendo a sua função; distanciando-se da
descoberta da sua autoestima, e de sua complexidade enquanto ser pensante?
A reformulação nas novas
tendências educacionais engloba, em primeira instância, a parte no
desenvolvimento do caráter e dos valores do individuo centrado em seu mundo
individual e global. O trabalho de unificação escola/família/comunidade,
revelando e reatando a consciência de pessoas que desenvolvam uma vontade
comum. A começar pelas instituições educacionais onde profundas mudanças na
área administrativa, humano e pedagógico serão reflexo para as demais
transformações que trarão uma nova perspectiva, ou uma nova visão holística
para a educação. Mesmo não sendo uma
tendência nova, a visão holística para o homem contemporâneo é mais recente, e
trás em seu bojo o conteúdo das transformações para o próximo século.
Parafraseando o Professor
Pierre Weil “A visão holística insiste
sobre a simplicidade voluntária, a cooperação, os valores humanos, a formação
geral precedendo a especialização, o dinheiro visto como um meio a serviço de
valores fundamentais e não como um fim em si mesmo”. A mudança de atitude e
mentalidade, a estratégia inovativa, a busca do ser enquanto humano e gerador
de reformulações internas e externas, o papel do líder, a fixação de metas
pessoais e de grupo- enquanto universo externo a você; o desempenho e os
resultados são alguns dos pontos intensamente avaliados neste processo. No
entanto, o aspecto mais importante fica com o individuo enquanto processo
único, pois só através desta mudança radical se chegará a resultados que movam
o conjunto (grupos).
A educação torna-se não
mais registrador de arquivos, mas a atualização destes arquivos para a visão e
o desenvolvimento de uma sociedade que sabe avaliar e julgar seus passos, e
visualizar um futuro mais objetivo. O educando passa, a saber, porque o
desenvolvimento da sensibilidade é tão importante quanto o pensamento lógico;
passa, a saber, que seu universo não se resume em um espaço 1x1, e nem tão
pouco em ser mais um no universo de trinta a quarenta indivíduos comandados por
outro individuo, muitas vezes condicionado. O educador passará a se ver como é
e procurará o aperfeiçoamento para o desenvolvimento de sua sensibilidade e
maior percepção, que lhe dará o gancho para entender e desenvolver aqueles
seres humanos que estão à sua frente. Saberá que educar está além das regras da
estática pedagogia; terão seres ávidos de conhecimento e extremamente
criativos, prontos para entender e dissertar sobre os mais variados temas. Quando
teremos a coragem de fazer o reencontro da ciência com a sabedoria? A nova
geração já é geneticamente diferenciada e traz em sua raiz a necessidade de
mudança. Por isso, hoje, os jovens estão sem “espelho”, sem reflexo em nenhum
modelo, sem heróis internos e externos. A busca de facilitadores é dramática, e
a violência, os grupos organizados - as gangs, as drogas são universos reais
desta moçada sem conteúdo para reformulação. Evoluímos nos últimos trinta anos
para uma fantástica tecnologia com reflexo direto no dia a dia da humanidade, e
também para a fome, a pobreza, o subemprego.... que paradoxo!
Onde está a lacuna? Onde
ficou o passo a passo do homem e sua evolução consciente?
Procuramos conhecer o
universo, suas leis, e mal conhecemos sobre nossa própria casa – a mãe Terra, nossas
leis chocam-se com a mais simples lei cósmica – expansão e retração – e com
isto enfrentamos o desafio da autodestruição da nossa espécie. As novas
instituições educacionais tem papel de importância neste limiar de era e de
século, pois junto com a sociedade e a família esboçará os novos objetivos que
permearão os caminhos para o equilíbrio de valores, e abrirá possibilidade para
os caminhos do conhecimento buscando solução para a paz e a segurança humana.
Motivação
Humana
O que precisamos mudar?
“Não se pode ensinar tudo a
alguém, pode-se apenas ajuda-lo a encontrar por si mesmo”. Galileu
Este é o grande salto na
educação, descobrir nossas inter-relações pessoais e com a natureza, já dizia
Krishnamurti. Mudar nossos paradigmas dar-nos o direito de ser livres, críticos
e criativos, esta deveria ser a busca verdadeira. No entanto, ainda nos
debatemos com uma educação fragmentada que confunde “ensino com educação”, sem
tempo ou mesmo condição para trabalhar o aspecto humano. Temos família e
sociedade transferindo para a escola a responsabilidade de literalmente educar
este aluno.
Precisamos ou não mudar?
Por outro lado, a escola
deve rever sua proposta de educadora de massa, sua proposta de trabalho em
grupo – família, comunidade, funcionários, alunos; avaliar a visão dos valores
deste final de século e ver a realidade dos acontecimentos para melhor
posicionar este indivíduo no futuro.
Todo este quadro
fundamentado em um discurso metodológico que atenda às expectativas de nossas
crianças, cujos interesses devem ser dirigidos para a autossuficiência, e a
autogestão dos meios que hoje estão em disponibilidade, tendo em vista as
rápidas mudanças que se operam em nível planetário, o que se traduz na busca do
indivíduo criativo.
Quais as interações que
resultarão destas descobertas e mudanças?
O individuo altamente
criativo traz em si o germe das transformações, caso isto não seja motivo para
pânico, toda esta reestruturação nos trará uma escola compacta, rica em
indivíduos críticos, buscadores de conhecimento, e sendo trabalhado o aspecto
humano voltado para a autoestima e o autoconhecimento, teremos seres altamente
espiritualizados. Isto significa que teremos jovens saudáveis e entendendo a importância
das inter-relações pessoais e do seu meio.
Conversando
- Histórico 1
Sete dos dez anos de
atividade em educação, um único pensamento permeou nosso trabalho – o grupo.
Somente nestes dois últimos anos, 94/95, tem-se desenvolvido esta ideia com rigor. Dentro desta visão temos um grande
compromisso com a nossa responsabilidade: todo nosso esforço só terá um reflexo
positivo se a nossa parte estiver realizada e refletir no grupo. Nada nos
ocorre, e ninguém nos faz absolutamente nada que não tenhamos dado longa margem
de vantagem para que isto ocorra. Portanto, somos os únicos responsáveis pelos
bons ou maus acontecimentos que nos rodeiam.
Assim é o grupo. A
responsabilidade de cada um reflete no todo criando a unidade e o conjunto
vencedor. As diferenças, antipatias, ou outra emoção que venha a aparecer ficam
em segundo plano chegando a ser entendida e desenvolvida dentro da
personalidade do conjunto. Assim, também, são trabalhados os alunos. A tão
falada liberdade com responsabilidade nada mais é do que você estar responsável
e verdadeiro frente aquele ser que, hoje, por falta de um espelho refletirá no
grupo sua expectativa.
Nestas duas décadas deu-se
muita liberdade às crianças, mas pais, escola e sociedade esqueceram-se de dar
respaldo a essa pessoa sem reflexo próprio, por isso tantas drogas,
comportamentos atípicos, perda de identidade e de parâmetro social e cultural.
Quais as características do
caminho?
O mais difícil nesta
tendência de trabalho tem sido conglomerar (reunir)
pessoas que tenham esta visão, ou não tenham medo de mudar seu estado atual de
expectativa. A maioria dos profissionais que por aqui passaram nestes últimos
dez anos, inclusive os entrevistados que chegam a algumas centenas, tem uma
visão romântica do educar. No entanto, não conseguem se desvencilhar do
enquadramento postular que a cadeia magisteriana, ou que a formação
universitária lhes deu. Precisam da autoridade por medo.
Hoje um professor tem medo
de seus alunos, o diálogo tornou-se quase impossível, o sentimento de amor
perdeu o significado diante da brutalidade e da hostilidade que os jovens refletem.
Hoje um professor tem medo de perder seu emprego por pressões de toda ordem,
começando pela cegueira dos pais que não aceitam ver as falhas dos filhos, nem
reconhecer seu despreparo, querendo simplesmente que passem de ano sem que seja
medida no futuro esta consequência, ou mesmo por diretores ávidos em não perder
alunos, ou não ter aborrecimentos. Isto infelizmente acontece, e o quadro atual
da educação reflete muito destes comportamentos. Por isso dentro da tendência
holística trabalhamos mente, corpo, espirito de toda a estrutura humana que
atingimos, ou seja, o corpo familiar, o corpo escolar – docente, discente,
funcional – e o corpo comunitário.
O resultado é de 100%?
Seria ignorância e extrema
pretensão pensar assim. Em primeiro plano somos nós a ponta do iceberg. Como?
Se você é o mentor de qualquer projeto todas as mudanças devem começar em você,
caso contrário o trabalho não comoverá as pessoas em grau suficiente para
operar as mudanças. Sempre haverá os que preferirão permanecer dentro do
esquema já viciado, mas os que querem mudar precisam sentir segurança, de onde
espelhar o seu “reflexo” para mudar.
Quando começamos a nos
inteirar deste processo, sentimo-nos não mais parte de uma pequena família, mas
nos sentimos um cidadão do mundo. Passamos do nosso umbigo para visualizar o
umbigo do mundo, e daí para mais além- o Universo. Ficamos pequenos diante de
toda percepção, e começamos a dar valor a coisas que mal percebíamos como a
“força das montanhas”. Não fazemos distinção entre indivíduos, e passamos a ter
uma profunda credibilidade e esperança em todos, mesmo que isto não ocorra na
mesma proporção. Continuamos aqui no livre arbítrio, alguns poderão querer a
mudança, outros não. Tem sido assim há milênios e, justamente aí a educação, o
educar para o saber tem o seu papel: mostrar o que foi e por que não deve se
repetir.
Quais os caminhos para a
grande virada?
Será que hoje isso é
ensinado, ou nossos alunos decoram datas e lugares sem nenhum referencial de
valor que os faça entender o por quê daquela informação? Qual sua utilidade? De
que vale informação sem conhecimento?
Saber está além do simples
aprendizado, e talvez por isso tenhamos tão poucos gênios nestes últimos
séculos. Nossa observação em nível escolar tem passado por todas as fases do
desenvolvimento humano, desde o bebê ao adolescente; e a nível profissional por
todas as faixas etárias e de formação. Dentre estas observações a mais
fantástica constatação tem sido sobre o processo de aprendizagem. Nada detém o
ser humano quando sua autoestima e seu papel dentro do grupo são conhecidos. A
busca do educador pelo centro do papel humano no processo de aprendizagem
elimina o que se convencionou chamar “dificuldades de aprendizado”. Recebemos
em nosso núcleo crianças com uma enorme vontade de aprender, no entanto, não
conseguimos detectar aonde ocorreu o corte neste processo, elas simplesmente
apresentam bloqueios, falta de criatividade e muitas vezes raciocínio.
Por que nossas crianças
perderam a capacidade criativa de raciocinar?
No trabalho de adaptação
dessas crianças a uma nova realidade vem o que consideramos a nossa riqueza – o
aspecto humano. Opera-se nesta criança uma verdadeira revolução, e ela passa em
primeiro lugar a se observar, entra em conflito, gera conflito, observa à sua
volta, sai do seu casulo e voa. Não trabalhamos com parâmetros de separatividade,
ou seja, o que vai determinar o trabalho específico com aquele individuo é a
detecção de sua necessidade seja ele um simples aluno com dificuldades normais,
ou sérias dificuldades de aprendizado.
A
prática
Uma
flor preciosa
Um os casos que mais nos
sensibilizou, e que demonstra bem este trabalho diz respeito a um aluno que
chamaremos de José. Era a primeira vez em três anos que, finalmente, eu tirava
férias e, até aquele momento, somente casos corriqueiramente normais nos haviam
passado pelas mãos. Voltei feliz, pois havíamos obtido um bom numero de alunos,
a escola crescia e, finalmente o inicio das aulas. Mas qual a nossa surpresa
quando no primeiro dia nos aparece José. Quem havia realizado a matrícula de
uma criança limítrofe? Não era o nosso trabalho. Com um ano e meio de idade,
José apresentou-se a nós como um desafio. Sendo uma criança limítrofe chegamos
a perder alunos, pois alguns pais não queriam que seus filhos normais
estivessem com um retardado mental. Afeiçoamo-nos àquela criança terna que,
mesmo estando em idade de mini maternal, ainda não andava, não falava e tinha
sérias dificuldades de coordenação motora.
Os mesmos estímulos e
atividades que realizávamos com as outras crianças, desenvolvíamos com José, e
sua resposta veio aos dois anos e meio quando, já melhor centrado, tivemos a
oportunidade de dar passos mais largos em relação ao seu desenvolvimento. Vou
situar aqui apenas uma passagem que demonstra como o trabalho do grupo é
importante em relação à autoestima, e ao auto desenvolvimento do individuo.
Após algum tempo de trabalho observamos alguns alunos ridicularizando José.
Sentamos com todos, José e o grupo no chão (a
base), e começamos a descobrir porque achávamos (enquanto grupo) José
diferente, e quem poderia ajuda-lo. Havia neste grupo crianças de várias
séries, e todas “normais”. Chegaram a conclusão que somente eles, enquanto
grupo, seriam a motivação de José. O resultado desta reunião em uma manhã
ensolarada foi a descoberta do papel do individuo e do grupo, e sua interação
nas transformações que se pode operar.
Hoje, José tem ótima
coordenação, raciocínio e está sendo alfabetizado. Isto é uma pequena parte do
que gerou um trabalho de sete anos, onde outras situações, também fantásticas,
ajudaram um ser humano que poderia estar hoje relegado à condição de dependência,
a uma nova perspectiva de vida. A enorme força de amar dos seres humanos é
desconhecida, e mal usada. Outros casos surgiram, já que temos o ensino regular
e o pré-escolar, onde a válvula mestre é o Amor. Chegamos à conclusão que para
tudo isto o agente chave é o elemento humano. Aqui o educador é a grande
descoberta.
Neste
ponto faço uma intervenção sobre o enunciado. O sentimento de “perda”, muito
humano, que nos acomete quando finalizamos algo sobre forte impacto emocional é
frustrante. Muito se perdeu em minha memória até por defesa. No entanto, todo o
trabalho desenvolvido reunia em seu principio o caráter de responsabilidade em
relação ao outro. Nada aqui, ou em outros casos, foi feito sem o acompanhamento
de profissionais competentes em varias áreas, e sem o acompanhamento dos profissionais
da área médica que atendiam crianças com problemas comportamentais, ou
neurológicos. Outro ponto é chamar atenção para o numero de alunos em classe:
quinze alunos. Isto nos dava a possibilidade de focar atenção em cada um deles.
Não houve a manutenção dos registros, ou documentos, sobre estes e outros
trabalhos com estas características que hoje poderia servir de apoio, ou mesmo
análise por parte dos profissionais interessados. Outros projetos mantiveram
seus históricos e registros documentados.
Conversando
– Histórico 2
Em educação ouve-se falar
sobre este ou aquele procedimento com a criança. O preparo pedagógico consiste
em mandamentos e regras de como tratar e educar o aluno. Não pretendemos
formular uma nova teoria sobre a necessidade de estruturar a educação, mas
provocar o surgimento de algo como “mentalidade educacional”, não obrigando
erroneamente através de métodos externos, pressionar a criança a ter um desenvolvimento
condicionado na nossa visão e percepção, já estabelecida, de educador. No campo
científico das observações tentamos formular perguntas objetivas que nos deem
respaldo aos nossos anseios. Seria interessante se obtivéssemos dados palpáveis
que possibilitassem uma evolução no desenvolvimento do trabalho em seus vários
aspectos. Teríamos então uma contribuição fundamental para mudarmos os
conceitos relativos aos conflitos gerados por esta pedagogia.
A expectativa pelo
resultado da pesquisa realizada pelo grupo foi significativa, pois queríamos
obter dados que fundamentassem nosso trabalho. Procuramos mostrar que as
perguntas feitas aos professores e alunos nos dariam condições de realizar um
trabalho mais amplo no sentido pedagógico, pois a literatura que pesquisamos
nos relata como devemos fazer, porém, esta mesma literatura não menciona que o
conhecimento está vinculado ao prazer, e este só se realiza quando o aluno está
induzido e motivado a receber e internalizar este conhecimento como condicional
do processo primitivo da razão, com o proposito de processar, renovar e
construir novas estruturas no aluno formando uma conexão que se completará na
somatória das descobertas pessoais. Uma nova luz estará estabelecendo verdades
originadas pelas teorias e práticas, encontradas pela razão e emoção do saber.
A proposta educacional que estamos desenvolvendo tem dado resultados que
superam as expectativas. A realidade existe e os antagônicos – o universo de
certos e errados – passam a combinar numa relação de complementariedade e
interdependência.
No pensamento holístico
temos uma visão ampliada dos fenômenos observados, incluindo o próprio
desenvolvimento do potencial humano. Os reflexos da mudança do ponto de vista
pedagógico são observados em todas as áreas do conhecimento, e os resultados
centrados nas pessoas sob o enfoque pedagógico organizacional, e das relações
interpessoais. O mundo, a realidade, o conhecimento, as pessoa, o trabalho, a
família estão relacionados ao fato de lidarmos com todas as possibilidades de
fracasso ou sucesso. Os resultados obtidos em nossa proposta nos faz acreditar
que o trabalho que realizamos nos fez acordar para a possibilidade de um
verdadeiro re-encantamento do mundo.
O
desafio holístico
Reestruturar a mentalidade
exclusivista da competividade que dominou os dois últimos séculos, para uma
mentalidade de cooperação, de adesão de esforços, de alianças e parcerias que
vislumbra o novo século. Este é um desafio holístico. Temos os mesmos objetivos
realinhando o autoconhecimento, a autoestima, a formação de valores que
integrem o homem em equilíbrio ao seu meio. A busca pelo exclusivo
aperfeiçoamento técnico, e a competividade intelectiva sem o respaldo da
sensibilidade, trouxe-nos uma sociedade carente de aspectos, e visão positiva
de futuro. A informação rápida passou a ter mais significado que o
conhecimento, e globalizamos uma sociedade desestruturada. Este é o maior
desafio do ser humano neste final de século: o reestruturar-se para estar hábil
nesta nova visão, para relacionar-se nestes novos tempos.
A
Escola
A curva de distorção na
linha educacional deu-se na extrema necessidade de especialização rápida em
detrimento da informação, fugindo ao conhecimento integral do homem, do meio,
das modificações tecnocientíficas, do encantamento do mundo, e principalmente
do total desconhecimento de si mesmo. Tudo isto vindo de uma uniformização da
educação, gerando o desperdício de talentos natos, já que a individualização
necessita de uma grande força de vontade para superar as pressões, e as
limitações econômicas que isto implica. O papel do verdadeiro educador, e
consequentemente da escola, é dar a este individuo a base estrutural sadia e
equilibrada que o levará a absorver todo este conhecimento, e direcionar sua
aplicabilidade. O aspecto tecnocientífico não pode estar desligado do aspecto
espiritual do individuo, ponto de coalisão forte que permite atingir com força
maior os grandes objetivos.
É informada à criança sua
verdadeira função na escola? Por que estudar tanto? O que isto representará em
sua vida?
A tendência na educação é
reavaliar números. Tanto estado, quanto particular saberá, como já sabem, que
não se educa massa humana. O máximo que conseguimos é formata-la, moldá-la
dentro de padrões pré-determinados, sejam elas de cunho político ou ideológico.
A massificação trouxe-nos um enorme vazio na aquisição do conhecimento e da
tecnologia, gerando um paradoxo. Daí a falta de sinergia dos jovens, e o total desinteresse
em “saber”. Comungamos com a opinião de Howard Gardner sobre a necessidade de
uma educação centrada no individuo, a partir da constatação de que temos potencial
cognitivo diferenciado, e potencialização de interesses em graus diferentes.
Hoje, estes processos são realidade, ainda que poucos no mundo busquem uma nova
face para os programas educacionais. Existem ainda barreiras a vencer, desde
culturais a econômicos. Os centros educacionais tornaram-se projetos
megalomaníacos, um verdadeiro marketing, um free shop, onde o individuo é mais
um consumidor em potencial. Os pais correm atrás de marcas, status, e falsa
imagem de geradores de gênios. Existem verdadeiras maquinas de fazer doidos e,
no entanto, continuamos com baixo rendimento escolar, e resultados em 1º/2º e
3º graus desafiadores. É preciso acordar para esta realidade, e prepararmos
indivíduos para as rápidas transformações, abrirmos nossas mentes para análise
e entendimento que as novas descobertas estarão trazendo para o nosso dia a dia,
e nos perguntar: O que é educar?
Nota: A reunião dos membros
das Equipes Interdisciplinares propôs esta metodologia pedagógica em curto,
médio e longo prazo, tendo em vista fatores individuais, sociais e relativos ao
meio ambiente . Trarão como resultado uma maior consciência do homem em relação
ao seu meio, e do homem com ele mesmo, dando a este homem a oportunidade de
passar pelas transformações e avanços de seu tempo em equilíbrio.
Fim
Comentário
02/05/2013
Lendo
as notícias veiculadas diariamente nas diversas mídias parece que o quadro não
mudou, pelo contrario piorou. Os jovens desmotivados, buscando soluções rápidas
para a ansiedade crescentes por varias solicitações diárias: consumo,
comportamentos ou perspectivas de vida. O mundo avançando através da
tecnologia, e o homem tentando correr para alcança-los. Estou há muitos anos
fora do ambiente escolar, não me sinto apta a falar hoje sobre metodologias ou
afins. Mas, no que se refere ao universo dos jovens estou realmente perplexa com
as informações. Dizer que algo precisa ser feito é repetitivo, nós sabemos. Podemos
acreditar que um movimento consciente entre os próprios interessados (alunos) e
a classe acadêmica traga a discussão à baila, e fomente as mudanças
necessárias. Não acredito que partirá de governos ou instituições que financiam
a pobreza generalizada. O saber é uma moeda rara, quem está apto pelo dom do
conhecimento não tortura a alma alheia com a fome, a pobreza e a ignorância.
Comentários