Dra. Thaís Russomano - Parte 2


O que o ocorre com o corpo humano no espaço
Se os seres humanos fossem “bonecos” feitos de massa de modelar, o molde seria a gravidade. É ela que determina, por exemplo, que as pernas tenham mais força do que os braços, pois são as responsáveis pela contraposição à força gravitacional. Atualmente, quando viajamos em uma nave espacial, o ambiente é igual ao terrestre, em termos de temperatura, umidade, pressão barométrica, concentração de gases, mas há a o efeito da falta da gravidade sobre o corpo humano. Isso altera todo o funcionamento orgânico, começando por uma desorientação espacial e com a redistribuição do sangue corporal. O sistema vestibular é o primeiro a sofrer com a falta de orientação espacial, causando o que se chama de doença da locomoção espacial, caracterizada por detrimento da performance, náusea, vômitos e mal estar difuso.


A redistribuição de sangue da parte inferior para a superior do corpo afeta o sistema cardiopulmonar e neuro-oftalmológico. O organismo desenvolve uma anemia, dita anemia espacial, e o sistema imuno-endocrinológico fica alterado. A imunidade diminui e os hormônios são produzidos de forma diferente em relação à sua produção em terra.

 Em três a cinco dias, o organismo começa a se adaptar ao ambiente espacial (sem gravidade) e, em cerca de um mês, passa a funcionar de acordo com ele. Alguns sistemas, porém, não se adaptam. Os ossos e músculos, por exemplo, seguem sofrendo com a falta da força gravitacional. Os ossos perdem cálcio e os músculos atrofiam. A exposição à radiação também é um problema importante e ainda sem solução. A proteção dada pela nave não é igual à dada pela atmosfera.

 Em viagens mais longas, os astronautas têm ainda que enfrentar problemas psicológicos. Isso porque eles ficam limitados em um espaço pequeno e convivem com um grupo menor de companheiros, normalmente de outras nacionalidades. Essas mudanças podem provocar ansiedade, insônia, depressão, além de criar situações de tensão na equipe.

 O exercício físico diário é recomendado para os astronautas, que devem manter protocolos rígidos em torno de 2h por dia, nos quais eles realizam atividades físicas aeróbicas e de resistência. Mesmo antes dos voos espaciais, os astronautas já começam uma série de exercícios físicos para manter a capacidade aeróbica e a força muscular. Os músculos e os ossos que se opõe à força gravitacional terrestre são os mais afetados durante a exposição à microgravidade. Os ossos chegam a perder, em média, 1% de sua massa por mês. Os músculos esqueléticos, especialmente os posturais e de membros inferiores, sofrem com a falta da gravidade terrestre e atrofiam.
Os exercícios físicos diários são prescritos para os astronautas para que esses reduzam a atrofia muscular e a perda de massa óssea, bem como permitam um melhor condicionamento aeróbico, mantendo um bom funcionamento cardiovascular. Como não há gravidade, os equipamentos devem ser adaptados para uso na nave espacial. Por exemplo, uma esteira para corrida ou um ciclo ergômetro tem que possuir tiras bilaterais para prender o astronauta ao solo durante o exercício físico. Não há como se levantar peso no espaço, mas pode-se realizar exercícios de resistência, com uso de molas.

 Quando os astronautas retornam à Terra, novas mudanças ocorrem em seus corpos. Embora os efeitos da falta de gravidade sejam completamente reversíveis, o corpo tende a voltar ao normal só uma ou duas semanas depois do retorno. Muitos astronautas ficam desorientados e não conseguem manter o equilíbrio do corpo, além de apresentarem um enfraquecimento dos ossos, que podem se quebrar mais facilmente. 


Por esses motivos Dra.Thais e muitos outros médicos pesquisam os efeitos da ausência de gravidade no corpo humano para melhorar os cuidados com a saúde não só daqueles que viajam pelo espaço, mas também dos que ficam na Terra. Isso porque os efeitos de uma viagem espacial são semelhantes a algumas das consequências do envelhecimento do organismo. Como podemos perceber, a vida de um astronauta é muito mais difícil do que parece à primeira vista.
Fonte: Thaís Russomano



Comentários